quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

textos para a sala de aula

                                       A HISTÓRIA DO LÁPIS

             O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:
             Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:
             Estou escrevendo sobre você; é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.
              O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial. Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!
              Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.
              "Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma MÃO que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e ele deve sempre conduzi-lo em direção à sua vontade".
              "Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas o farão ser uma pessoa melhor".
              "Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça”.
              "Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você".
              "Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação".
                                                                                                              Paulo Coelho

                           


                               Tempo bom na escola
Assim, quando fiz sete anos, vó Luzia me apontou e disse:
- Ta na hora dele entrar na escola.
Minha mãe vendeu o guarda-comida, comprou cartilha, caderno, lápis e tudo mais, pano para duas camisas brancas, para a calça azul; só faltou o calçado. Não fez diferença, quase todos os meninos iam de pé no chão.
A escola era uma sala ao lado da máquina de beneficiar café, trinta carteiras, a escrivaninha da professora e um quadro-negro que tomava a parede inteira. Dona Carolina vinha da cidade para dar aulas, na charrete da fazenda que às quatro horas a levava de volta, trazia os jornais da fazenda e a correspondência do patrão.
O filho do campeiro, moleque encapetado, logo inventou de chamar dona Carolina de “dona Creolina”. Como o nome dele era Raimundo ela botou nele o apelido de Viramundo; daí ele parou com aquela besteira.
Para mim a escola foi um tempo bom; eu pensava “enquanto estiver aqui não tem perigo de me mandarem pra roça”. Enchi cadernos e mais cadernos; eu apreciava ver as letras saírem redondinhas do meu lápis:
- Professora, e quando acabar a cartilha?
- Quando acabar a cartilha você já saberá ler.
- Vou poder ler gibi? Histórias em quadrinhos?
- Vai.
- O caso é que não tenho dinheiro para comprar.
Toda a classe riu; a professora também:
- Então, todo dia em que ler corretamente, trago uma dessas revistinhas para você.
- Verdade? Promete mesmo?
- Prometo.
Foi um tempo bom o da escola; apesar da palavra “carestia” sempre presente nas prosas dos mais velhos, fosse na casa do vizinho, fosse na nossa.
Acabei o primeiro ano, fiz o segundo e quando estava pra lá do meio do terceiro, em setembro, com as chuvas e o começo das plantações, uma noite, depois de muito cochichar com vó Luzia e a mãe mais triste, vô Juvenal tocou no meu braço e, quando olhei, ele disse:
- Neguito, amanhã cedo você vai com nós para a roça. A carestia... a carestia vai obrigar você a trabalhar com a gente... Tenho muita pena, meu filho, mas acabou-se a folgança da escola...
Sentado no degrau da cozinha, o prato de arroz com feijão sobre os joelhos, senti um nó na garganta, uma revolta que brotava do coração, queria arrebentar em soluços.
Do outro lado, na casa do vizinho, seu Venerando criou coragem, disse para o filho menor, meu colega na escola:
- Você também, Zezinho, amanhã começa a trabalhar na enxada.
Do lado de cá até que me senti melhor: “não estou sozinho na minha tristeza”. Olhei para minha avó, na beira do fogão – coava um café ralo – a mãe a chorar na porta da sala e o avô ali em pé, como à espera de uma palavra amiga.
- Não tem problema, vô. Não tem problema... Respondi, enquanto que o meu peito parecia crescer cheio de responsabilidade.
Adaptado de Lucília Junqueira de Prado.  De sol a sol.
Belo Horizonte, Comunicação, 1980.

AULA DE LEITURA
                                                        Ricardo Azevedo



A leitura é muito mais
do que decifrar palavras
Quem quiser parar pra ver
pode até se surpreender

vai ler nas folhas do chão
se é outono ou verão;

nas ondas soltas do mar
se é hora de navegar;

e no jeito da pessoa
se trabalha ou se é à-toa

na cara do lutador,
quando está sentindo dor;

vai ler na casa de alguém
o gosto que o dono tem;

e no pêlo do cachorro,
se é melhor gritar socorro;

e na cinza da fumaça,
o tamanho da desgraça;
e no tom que sopra o vento,
se corre o barco ou se vai lento;

e também no calor da fruta,
e no cheiro da comida,

e no ronco do motor,
e nos dentes do cavalo,

e na pele da pessoa,
e no brilho do sorriso,

vai ler nas nuvens no céu,
vai ler na palma da mão,

vai ler até nas estrelas,
e no som do coração.

Uma arte que dá medo
é a de ler um olhar,
pois os olhos tem segredos
difíceis de decifrar.

Continho
Era uma vez um menino triste, magro e barrigudinho. Na soalheira danada de meio-dia, ele estava sentado na poeira do caminho, imaginando bobagem, quando passou um vigário a cavalo.
— Você, aí, menino, para onde vai essa estrada?
— Ela não vai não: nós é que vamos nela.
— Engraçadinho duma figa! Como você se chama?
— Eu não me chamo, não, os outros é que me chamam de Zé.
     MENDES CAMPOS, Paulo, Para gostar de ler - Crônicas. São Paulo: Ática, 1996, v. 1 p. 76.


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